segunda-feira, 7 de fevereiro de 2011

Me and you, Just us two...


Me and you, Just us two...

Ontem, conversando com um amigo, lembramos de Beauvoir e dos amores necessários e amores contingentes.

E fiquei pensando sobre isso até dormir. Quantos de nós tivemos amores arrebatadores? Amores que nos edificam, que nos são necessários como o ar, que nos completam? Amores livres que obedecem as regras criadas apenas para ele – me and you, Just us two? Eu acredito nunca ter vivido algo assim.

Agora amores contingentes e circunstanciais, tive vários. Amores a lá Moraes: “Que não seja imortal posto que é chama, mas que seja infinito enquanto dure”. [i] A chama sempre apagou por fim. E em cada um deles eu acreditava que tinha encontrado um grande amor.

Mas a própria definição de amor é algo complexo. Amor não tem fórmula, não é palpável, não se vê. Como diziam os Titãs, Não existe o amor, apenas provas de amor ” [ii]. E nada mais. Então como entrar num consenso de o que é amor e sentir-se seguro e amado quando se ouve “eu te amo”? Como viver um amor necessário se a dúvida do que o amor do outro quer dizer nos consome through the morning, through the night?[iii]

Passamos a vida tentando, consciente ou inconscientemente encontrar o sentimento que dizem os filósofos e poetas, ser o mais sublime de todos. A princípio em nossos pais, os primeiros correspondentes. Depois vamos expandindo nossos limites e agregando amores: amamos nossos familiares, homens e mulheres, amigos, por fim filhos e netos.

E nessa busca, inseridos na sociedade como somos, acabamos nos perdendo em pequenas regras, pensamentos pré concebidos, fórmulas empíricas que nos arrastam fatalmente para o amor contingente.Temos que entrar num jogo e obedecer a certas regras.

Devemos dificultar o acesso do ser amado ao nosso próprio coração, nos guardarmos sexualmente pelo menos nos primeiros encontros, não exibir nada que não seja perfeito, lindo e agradável. E depois desse ritual bizarro de acasalamento podemos então relaxar e nos mostrar como somos. É quando então nos chocamos, passado um tempo – tempo suficiente para que conheçamos o outro mais intimamente – de que a paixão acaba e nos vemos lidando com defeitos com os quais não estamos preparados para lidar mas continuamos mesmo assim pelo comodismo de ter alguém para chamar de seu.

O amor deveria andar lado a lado com a liberdade. A necessidade de dar nome as relações e cercá-las de regras é certamente um passo para o precipício. Mas ser maduro e seguro o suficiente para viver algo livre nos foge das mãos. Ser libertário em uma sociedade conformista é nadar contra a corrente todos os dias o que não combina com o estado leve e despreocupado em que nos encontramos quando amamos. Não queremos mais batalhar quando o mundo aparece rosa, desfocado pelas lentes do amor. Queremos provas, alianças que nos dão a falsa impressão de compromisso, segurança. Queremos convencer os espectadores de que somos reais e que nunca vamos nos separar.

No fim o que vivemos, é um amor contingente que queremos enxergar como um amor necessário. Encenamos o mesmo número repetidamente para o mesmo público desatento na esperança de convencer a nós mesmos e também a platéia de que o amor contingente que podemos ter é o tão esperado sublime amor que desejamos ardentemente encontrar.


[i] MORAES,Vinícius. "Antologia Poética", Editora do Autor, Rio de Janeiro, 1960, pág. 96.

[ii] TITÃS. Como estão vocês?RJ. BMG, 2003: CD. Faixa 07

[iii] PLANT,Robert & KRAUSS, Alisson. Raising Sun, Universal. 2007: CD. Faixa 06

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