Tenho algumas amigas que me
deixam orgulhosa pela garra e determinação quanto à relacionamentos. Já olhei
para elas em momentos tensos, esperando uma cara de choro e vi mandíbulas
cerradas, caras pensativas e lábios dizendo:
- Eu não vou desistir dele.
Tenho uma amiga que aguentou de
tudo um pouco: desprezo, confusão mental, uma nova namorada, declaração de amor
à essa namorada via Facebook, amigos se dividindo como na divisão de um partido
político.
E quando eu achei que a coisa
tinha desandado de vez, ela mudou o cabelo, emagreceu, arrumou o armário, lutou
pelo cara pelas beiradas, colocou a namorada para escanteio e hoje vive bela e
formosa ao lado dele no mesmo apartamento. Quando olho para ela a vejo como mais
uma mulher a escalar o Evereste. E impassível!
Enquanto olhava o mar,
atravessando a ponte de volta para casa (o mar sempre abre alguma coisa dentro
de mim), me perguntei:
O quanto devemos aguentar por amor?
As vezes olho para o meu próprio
relacionamento e penso que não vale a pena. São discussões idiotas, provocações
infantis. Vontade de mandar ele embora da minha casa com escova -de- dentes,
camisetas e furadeira e nunca mais voltar. Mas logo depois eu lembro como é bom
acordar antes do despertador, me encaixar feito conchinha e ficar ali o quanto
eu puder. Penso nas comidinhas deliciosas que ele faz, nas tantas vezes em que
me escutou e carregou minhas trabalhas para lá e para cá e os defeitos vão
ficando assim, sem tanta importância.
Esse final de semana tivemos um
atrito. Tivemos não; eu tive! Achei um absurdo ele dizer que queria ficar
sozinho e no outro dia estar com os amigos bebendo na piscina. Sozinho uma ova;
sozinho sem mim! No fim das contas foi até bom. Eu, ele e meu filho seriam
elementos demais na mesma equação. Ficar longe às vezes é necessário, apesar da
desculpa esfarrapada dele. Mas o destino dá uma ajuda e faz a gente engolir o
remédio ruim, mas necessário.
Pensando e repensando, sentindo a
mágoa ir e voltar durante a madrugada, lembrei-me então de uma entrevista da
falecida Dona Canô, mãe do Caetano, onde ela contava que quando casou foi morar
na casa da sogra com mais 24 pessoas! Quando a repórter a questionou como foi,
ela respondeu o seguinte:
“Morei lá durante anos sem o menor problema. Sabe, minha filha, quem
quer viver procura viver. Foi o que me aconteceu. Eu queria viver com o meu
marido, passando o que ele passava de bom e de ruim. Zeca não podia se afastar
da família porque ele e a irmã sustentavam todo o mundo. Até hoje o que resta
da família de Zeca é amigo. Depois ele alugou um sobrado e a gente se mudou”.
Me sinto boba depois disso. Mas
também penso que cada um tem suas necessidades e que tolo é aquele que passa a
vida toda tentando ser algo, não consegue e vê que perdeu a vida toda tentando.
É tudo muito confuso: agradar
demais enjoa, ligar demais é correr atrás, obedecer é ser passiva, mas homens
não querem uma linguaruda. São tantos “não sei”, tantos “precisamos conversar”,
tanto sarcasmo e tanto sexo bom, carinho, amizade, risadas, tudo tão bittersweet...
De repente como um estalo,
projetou-se na minha cabeça, em letras bem grandes a piscar, a palavra
equilíbrio.
Mas poxa, equilíbrio não está
fácil. Não se tem equilíbrio nem na alimentação, que dirá em relacionamentos,
tão mais complexos do que a eterna luta entre os carboidratos e as proteínas.
E qual é a fórmula? Cadê o
be-a-bá dos relacionamentos em versão de bolso, onde eu compro?!
Equilíbrio continua a piscar. E
talvez a questão seja tentar, para sempre. Tentar é o que resta e com um pouco
de sorte, com fé no coração e Dona Canô como exemplo, a gente se atira no
desconhecido agarrada no mantra “quem
quer viver procura viver”. Escondida em algum canto ou bem na nossa cara,
sem que a gente perceba, pode ser que esteja a medida certa do que se faz por
amor.