Não sou do tipo que quer saber muito sobre a origem dos
produtos que eu consumo. Sou uma típica garota de cidade, “piá de prédio”,
criada a base do que está disponível nos supermercados.
Mas hoje me toquei que meu almoço é praticamente orgânico.
Acho engraçado esse tipo de povo politicamente correto que paga R$10 o kg de
cenoura orgânica, mas não se dá o trabalho de meter a mão na terra e plantar
alguma coisa para ter um orgânico para chamar de seu.
Já eu tenho um tesão enorme em plantar coisas e só não
planto mais por falta de espaço: continuo sendo “piá de prédio”. Mas o que posso
eu cultivo: tenho manjericão, morango e alecrim na janela do quarto, orégano,
cebolinha verde, tomilho e hortelã na sacada.
Hoje fui à feira, coisa que não faço com tanta freqüência por
preguiça e por achar o preço das verduras (que não andam tão bonitas assim)
meio salgado. Mas hoje queria comprar frango e sei que as barracas de lá
comercializam frango de pequenos produtores que ainda criam os bichos de
maneira mais natural com milho e raçãozinha básica, o famoso frango caipira.
Comprei uns tomatinhos cereja com aquela cara de tomate de
jardim, sem a maquiagem química dos agrotóxicos, umas batatas e ovos caipiras
que tenho certeza, terão aquela gema laranja que deixa qualquer massa com cara
de massa de vovó. Da mesma barraca do frango ainda trouxe quatro lingüiças alemãs
temperadíssimas, sugestão da Margot, dona da barraca e produtora das lingüiças,
morcilhas, patê de porco, queijinho e demais delícias típicas do povo rural da
região, um misto de alemães com italianos cada um com uma receita melhor do que
a outra.
E La estava eu preparando meu almoço de mulher preguiçosa
(enfio tudo na assadeira e cubro com papel alumínio) quando me dei conta de que
a parada era orgânica! O frango criado de forma natural, os tomates sem
agrotóxico, a lingüiça caseira e minhas ervas de sacada: tomilho e orégano.
Tudo regado à um vinho branco chileno que com certeza não é orgânico mas daí
seria esperar demais de mim!
No final das contas cozinhar é bom de qualquer forma. O que
importa é imprimir sua marca, seu toque, seja com produtos orgânicos metidos à
besta, seja com produtos orgânicos sem muita marra como essas belezinhas que
achei na feira e que farão o maior sucesso na mesa.
É claro que grandes cozinheiros sabem exatamente a origem de
todos os ingredientes e ficam de firula como aquele pessoal estranho com cara
de bunda, que analisa vinho. Espero que após a faculdade de gastronomia eu não
vire uma cara de bunda também. Por favor, se começar a me transformar, me
avise!